Outra vez...Álvaro de Campos
Pois é, estar doente e dormir 18 horas por dia... acaba em insónia!
Por isso, aqui vai mais um belo poema do lúcido, múltiplo e tudo o que lhe queiram chamar:
Não venhas falar nem sorrir.
Estou cansado de tudo, estou cansado,
Quero só dormir.
Dormir até acordado, sonhando
Ou até sem sonhar,
Mas envolto num vago abandono brando
A não ter que pensar.
Nunca soube querer, nunca soube sentir,
Até pensar não foi certo em mim.
Deitei fora entre urtigas o que era a minha fé,
Escrevi numa página em branco, "Fim".
As princesas incógnitas ficaram desconhecidas,
Os tronos prometidos não tiveram carpinteiro.
Acumulei em mim um milhão difuso de vidas,
Mas nunca encontrei parceiro.
Por isso, se vieres, não te sentes a meu lado, nem fales.
Só quero dormir, uma morte que seja
Uma coisa que me não rale nem com que tu te rales-
Que ninguém deseja nem não deseja.
Pus o meu Deus no prego.
Embrulhei em papel pardo as esperanças e ambições que tive.
E hoje sou apenas um suicídio tardo,
Um desejo de dormir que ainda vive.
Mas dormir a valer, sem dignificação nenhuma,
Como um barco abandonado,
Que naufraga sozinho entre as trevas e a bruma
Sem se lhe saber o passado.
E o comandante do navio segue deveras
Entrevê na distância do mar
O fim do último representante das galeras,
Que não sabia nadar. "
P.S.- Quando tinha 16 anos, era este o meu poema!!!! A adolescência é tramada... e o primeiro amor também!
Não deixa de ser um belo poema.