Saturday, January 27, 2007


Há momentos que cada vez se tornam mais raros. O dia a dia, o trabalho, a porcaria das preocupações. O não ter tempo para isto...

Para poder parar, olhar para um ponto qualquer, que no fundo não é mais que um ponto dentro de mim. Conseguir ver a minha vida de fora, como se não fosse minha. Mastigá-la, gozar as memórias e analisar as falhas. Falar com a minha consciência, dar e procurar respostas. No fundo, tentar perceber a história da minha vida, ou a falta dela. O fio condutor.
Porque sem estes momentos, os dias passam, os anos ultrapassam, e nem dou conta disso. É o que eu chamo não ter oportunidade de saborear a vida. Toda a gente se sabe divertir, mas não é disso que falo.

Falo de sentir, de poder viver as coisas outra vez na minha cabeça, como eu quiser. Pode ser num pôr de sol, pode ser na minha cama, ou mesmo no carro.

Só é preciso tempo e , acima de tudo, paz de espírito.

Thursday, January 25, 2007

Mecanismos...

Ultimamente tenho aprendido muitas coisas... essencialmente coisas que gostava de não ter que aprender. Começo a perceber que, salvo raras excepções, o ambiente de trabalho exige a uma pessoa uma série de mecanismos e "calos". Ora como sempre fui uma pessoa frontal e, por vezes, impulsiva, está a custar-me bastante adquirir uma postura adaptativa a esta nova realidade.
Para já, uma pessoa tem que aprender a engolir sapos e (o que me custa mais) a ter que sorrir quando só tem vontade de mandar as pessoas a um certo sítio.
Estou a aprender que quando se trabalha num ambiente hostil, é por vezes difícil não se tornar também hostil. Como diz o "amigo" Nietzche : quando olhas para um abismo, o abismo também olha para ti. Vou-me esforçar seriamente nessa luta contra a amargura e frustração!
Estou também a aprender a levar em consideração apenas as críticas construtivas e apagar da memória as facadinhas que às vezes vou levando. A fingir que não me chateia ouvir toda a gente a cortar na casaca uns dos outros.
Aprendi acima de tudo uma coisa: só interessa a opinião de quem interessa.
Aplico às vezes este raciocínio quando assisto a certas coisas. Penso o seguinte: quando fôr grande, quero ser diferente e melhor que isto tudo. De certas situações, podemos apenas retirar uma lição: isto é o que eu não quero, o que eu desprezo. Uma lição tão válida e importante como qualquer outra.
A minha questão é: se o ambiente no trabalho fosse bom, não seria algo que tornaria a vida mais fácil para TODOS??? Não percebo, se calhar a minha maturidade anda um passo de cada vez...ainda não chegou lá!

Saturday, January 20, 2007

Bonsai

Agora tenho um bonsai...
Deram-me!
É muito giro,pequenino e fofinho. Tem as folhinhas todas perfeitinhas, o seu vasinho, o seu tronquinho, tudo muito "inhozinho"...
Mas parece que o bonsai precisa que lhe dêem festinhas, que o borrifem com água e que falem com ele pelo menos 5 minutos por dia!
Sou um ser humano, supostamente sensível, mas tou-me literalmente a cagar para o bonsai!!! O que é que eu vou falar com ele?O que é que eu lhe vou dizer?
A única coisa que faço é mandar-lhe água para cima!
Festinhas? Blábláblá?Por favor...
Não sei se isso faz de mim um monstro insensível, mas como é que uma pessoa se sente a falar com uma planta? No mínimo maluca! Bem, não é nada que não me tenham já chamado... mas ainda não me dá para falar com o bonsai!
Se ele mirrar e morrer, podem culpar-me pela falta de interesse psicológico que demonstrei pela planta. Mas ,para compensar, posso sempre fazer-lhe um funeral. De preferência à americana,que sempre é mais um pretexto para dar uma festa!
"este adiós no maquilla un hasta luego
este nunca no esconde un ojalá
estas cenizas no juegan con fuego
este ciego no mira para atrás
este notario firma lo que escribo
esta letra no la protestaré
ahórrate el acuse de recibo,
estas vísperas son las de después
a este ruido tan huérfano de padre
no voy a permitir que taladre un corazón podrido de latir
este pez ya no muere por tu boca
este loco se va con otra loca
estos ojos ya no lloran más por ti"
J. Sabina
" O meu Sentimento é cinza
Da minha imaginação,
E eu deixo cair a cinza
No cinzeiro da Razão."

Fernando Pessoa (12/06/1935)