Thursday, July 27, 2006

Episódio " Salvem o telemóvel!"

Casa de banho do Centro de Saúde.
Sento-me confortavelmente na sanita, impecavelmente limpa, reservada ao pessoal. O bolso esquerdo da bata, incrivelmente branca, sobre a minha perna.
De repente, uma pequena cócega na perna esquerda e...chlap!!!! Interrogo-me, adivinho, rezo para que não tenha acontecido. Revisto o bolso da bata...salvem o meu telemóvel!!!!
Levanto-me, olho para a água limpa da sanita com bolhinhas de sabão...salvo ou não o meu telemóvel? Fecho os olhos, procuro o espírito Mitch dentro de mim, respiro fundo e... agarrei-o!
Mando-o para o lavatório, água corrente durante 1 minuto...
E a partir daqui começa a reanimação ( ER , espírito George Clooney)! Toneladas de papel higiénico para secar a vítima. Não reage! Carrego nalgumas teclas, e o pobre esguicha mais umas gotas...oh, não!! Até a luz se apagou! Abro o telemóvel, desencaixo a bateria e, quando a volto a encaixar, ele vibra desesperadamente! Foi tudo o que ouvi dele até se calar para sempre.
Ainda o levei à praia, coloquei-o ao Sol para ver se a água saía...mas nada feito!
É o destino, é um sinal...tenho mesmo que arranjar outro!
Pode-se dizer que a nossa relação...foi-se por água abaixo!

Episódio " A Burra"

Aeroporto "Sei lá o quê" nas redondezas de Roma...ah, Ciampino! Eu e os meus amigos à espera de um avião para Paris, companhia mitra de low cost em que nem comida oferecem!O pessoal ía para a EuroDysney!!!!
Fazemos o check in com 1 hora de antecedência e eu descubro que não há qualquer "Smoking Point" até ao avião...pânico, amuo...resignação.
De repente, liga-me uma amiga de Portugal! Começo a falar com ela e, vendo que não tenho toda a rede necessária, começo a procurar um espaço ao ar livre! Vislumbro uma porta de vidro com umas letras ( às quais nem sequer prestei atenção), que imediatamente abro. Eis que começam a tocar alarmes por todo o lobby, luzes vermelhas a piscar...confesso que já estava a piscar no meu pulmão o cigarrinho que poderia fumar...
Olho para trás, ainda de telemóvel na mão, completamente à nora, e que vejo eu? Cerca de 30 pessoas a olhar e a apontar para mim com ar reprovador...os meus amigos a rirem-se às gargalhadas! Os restantes passageiros, mais valia apontarem-me o dedo! Como não tinham visto nada, olhavam para todo o lado com ar assustado. Incêndio? Assalto? Bomba? NÃÃÃÃOOOO....só uma portuguesa que não reparou na porta de saída de emergência, que dava para a pista de aterragem!!!!
Fui ter com os meus amigos em busca de algum consolo. Mesmo a tempo de me esconder dos 3 polícias que apareceram, armados, para ver se percebiam o que se estava a passar!
Ah granda tuga!!!!!

Sunday, July 02, 2006

Poema bonito de Álvaro de Campos

"Esta velha angústia.
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não : é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicómio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicómio sem manicómio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu tecto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer-
Júpiter, Jeová, a Humanidade-
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!"