Saturday, May 05, 2007

Miguel Esteves Cardoso

-Em bom português, a expressão "Estás com boa cara" significa exactamente: "Ultimamente tens andado com má cara". A partir de uma certa idade, a cara é muito importante. De nada interessa uma pessoa sentir-se bem, ou estar bem, ou mesmo ser bem. Em Portugal, todos os check-ups do mundo não valem o olhinho arguto de um transeunte que diz " Está com má cara".
-Voltar a Portugal é como voltar a fumar: é maravilhoso e, ao mesmo tempo, horrível.
-Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amorcego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
-Quanto mais vou sabendo de ti, mais gostaria que ainda estivesses viva. Só dois ou três minutos: o suficiente para te matar.
-Ser filho é difícil. Mais difícil que ser pai. É raro ouvir-se falar de um "bom filho". Por alguma razão. Os filhos são sempre maus. Mamam e fogem. Sugam os pais até ao tutano, dando-lhes cabo da paciência, da saúde e do orçamento e quando estão anafados e nutridos, licenciados e fresquinhos, chama-lhes senis e dão o solex à primeira oportunidade.

Texto bonito de Pablo Neruda

"Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo. Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos. Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe. Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples acto de respirar. Somente a perserverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade!"
(Pablo Neruda)
Nota: Dedicado à F. Continua a "levantar a mesa".

Friday, May 04, 2007

O momento...

Sabem aquelas alturas em que deixamos de ouvir, de pensar , e parece que saímos de nós apenas para observar a panorâmica?Não?
Ontem estive de banco, que por sua vez estava caótico! Verdadeiramente caótico!!!!
Comecei às 8 da noite, com um prato de cereais jantado...
Lá para as 3 da manhã, com zero cigarros fumados (não por falta de vontade!), um buraco no estômago, aflita para ir à casa de banho e a desesperar por um café... vejo-me com duas tipas do Cazaquistão a discutirem comigo porque têm borbulhas que lhes dão comichão e porque eu não sou dermatologista e porque sei lá o quê!Depois de tentar explicar 20 vezes que lhes posso dar qualquer coisa para aliviar, mas que devem ir a uma consulta... elas continuam!Ao mesmo tempo, doentes a baterem à porta porque os exames já estão prontos, um enfermeiro a pedir para eu ver um doente que está esquecido por um qualquer colega há horas....aaahhhhhhhhhhh!!!!!!!
Páro, saio de mim, deixo de ouvir , e penso:
"Porra, estou cansadíssima, já nem sei há quanto tempo estou aqui, já não penso, sou só um autómato... tenho a cabeça esgotada, o corpo a dar o litro e o coração... nem se fala!"
Parece que há alturas na vida de uma pessoa em que todos os males vêem concentrados de uma só vez. Como se alguém nos estivesse a pôr à prova...A esticar a corda!
É o momento, aquele momento em que pensamos : "Vou dar o berro!Não aguento mais!"
E precisamente nesses momentos, respiramos fundo, voltamos ao filme do momento, e resolvemos o que há para resolver. A pena é para os fracos.
Foi o que fiz. Sem cigarro, café, comida ou sanita! Que venham eles!
São momentos tramados, mas que tornam todos os outros muito mais fáceis de suportar.
E agora vou dormir...finalmente!

Wednesday, May 02, 2007

Graxa

Pois é, infelizmente nunca tive espiríto para dar graxa.
Mesmo quando tinha bastante a ganhar com isso. Aliás, neste momento era o que devia fazer no meu local de trabalho! Como me disseram outro dia : "Lambe-lhe os pés e consegues o que quiseres".
Verdade.
A verdade é que as pessoas gostam de ser bajuladas, tendo ou não feito alguma coisa por isso... onde é que eu quero chegar?
Onde quero chegar é à burrice de quem quer graxa. Se a graxa resulta, significa que os engraxados são uns burros, manipuláveis por meia dúzia de elogios. Claro que aí, pensam erradamente que são os maiores e acabam por dar aos seus supostos "fãs" aquilo que eles quiserem. Ridículo, este ciclo vicioso. Não passa de uma troca como tantas outras.
Quem é o mais coitado, aquele que elogia para receber algo em troca ou aquele que precisa de elogios em troca de algo? Não sei... mas tudo isto me dá nojo.
E disse ao meu amigo: "eh pá, eu sei disso, mas ainda tou na fase burra de ter alguns princípios!"
A verdade é que a honestidade nem sempre resulta. Aliás, às vezes descobrimos falta de honestidade nos sítios mais inesperados!
A verdade pode doer, mas não deixa de existir. Qual é o gozo de acharmos que somos muita bons só por uma data de razões erradas? Não percebo.
E enquanto não entrar no jogo, hei-de pagar com o corpinho!
Isso já percebi...
Nota: Recebi agora o seguinte SMS: "Vai inaugurar uma exposição fantástica dia 5 de maio.O corpo humano com cadaveres reais de sem abrigo chineses!"
Fantástico?... os meus amigos recorrem a tudo para me animar!